segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Por que nos tornamos cada vez menos humanos?

Por: Luiz Castro


Curta-metragem espanhol discute a impessoalidade e inflexibilidade da sociedade na qual vivemos    

Muito se discute o papel da tecnologia e do desenvolvimento dos meios de comunicação e quais os reflexos destes no comportamento e proximidade entre as pessoas. Celular, Orkut, MSN, Skype, webcans, Twitter, etc.  São tantas as possibilidades de entrarmos em contato com o maior número de pessoas, inclusive as que não conhecemos e isso nos passa a impressão de que estamos cada vez mais próximos uns dos outros. Mas será que, na realidade, não acontece o contrário? 

Um curta-metragem espanhol, chamado Diez Minutos, do diretor e roteirista Alberto Ruiz Rojo nos ajuda a discutir essa impessoalidade nos meios de comunicação. E além deste problema, o curta nos apresenta outra questão: a inflexibilidade e dificuldade que as pessoas sentem em saltar uma regra, em sair do senso comum, do que nos é estipulado, ainda que isso claramente nos traga benefícios. O vídeo pode ser encontrado no youtube, dividido em duas partes:(Parte 1), (Parte 2).  Não há legendas em português, mas é possível compreender bem a mensagem do filme com um mínimo de conhecimento da língua espanhola.

O filme conta a história de um homem que liga para o serviço de atenção ao cliente de seu celular e retrata, em pouco mais de dez minutos, o modelo de sociedade em que vivemos. Enrique, protagonizado por Gustavo Salmerón, encontra-se desesperado em sua casa após a decisão de sua namorada de aceitar uma excelente proposta de trabalho e se mudar para Nova Iorque. Gustavo não havia concordado em viajar com sua amada, mas após mudar de idéia, se vê impotente ao não encontrá-la para comunicar sua decisão. Nesse momento, o protagonista se lembra que sua namorada havia ligado para uma amiga às 19h35min, do seu celular e que, tendo esse número, ele poderia encontrá-la e convencê-la a ficar com ele na Espanha.

Como seu celular só gravava as últimas ligações, ele teria que ligar para o centro de atendimento para descobrir o número chamado. A partir daí, Enrique se depara com a inflexibilidade e impessoalidade da operadora Nuria (Eva Marciel), que se nega a dar-lhe o número da chamada, por não poder desobedecer uma regra – a de fornecer números de chamadas, ainda que para os donos do aparelho móvel. Indignado, Enrique tenta convencer Nuria, de todas as formas, que ela não precisava agir como uma máquina e que, com o mínimo de solidariedade a outro ser humano, ela poderia informar-lhe o número.

Talvez pela simplicidade da situação, que já aconteceu ou poderia acontecer com qualquer um (Quem nunca se irritou com uma operadora de telemarketing que mais parece um robô e não um ser humano?), Diez Minutos é uma grande obra que nos mostra, de forma muito clara, que vivemos em um mundo no qual se esquece cada vez mais o sentido de humanidade, de compaixão.  Estão todos presos às regras do sistema e a tecnologia, ainda que pareça encurtar as distâncias, na realidade distancia cada vez mais as pessoas.  

Diez Minutos representa uma mensagem de esperança à sociedade fria e impessoal e foi coroada com mais de 85 prêmios em festivais ao redor do mundo, incluindo o prestigiado Goya, em 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário